Por que é difícil acabar com a dengue?
Por que é tão difícil combater o mosquito da dengue? Capacidade de adaptação do vetor é empecilho para se vencer a guerra contra o mosquito. Por isso, o melhor é enfrentá-lo na fase larval
A dengue vem dando sinal de recuo. Em muitos estados, o número de casos demonstra uma vertiginosa queda, e os especialistas já apontam o ano como inter-epidêmico. Ou seja, não esperam anormalidades, mas preveem outra epidemia mais adiante. O que provoca a pergunta direta: por que ninguém consegue acabar com a dengue de uma vez?
A resposta, que deveria ser simples, talvez nem exista. De acordo com o diretor do Hospital de Doenças Tropicais de Goiás (HDT), Boaventura Braz de Queiroz, não é possível acabar com a dengue. Ele parte do princípio de que seria necessário erradicar o Aedes aegypti, o famigerado mosquito transmissor da doença. “Mas é uma tarefa impossível”, diz.
Não dá para acabar com o mosquito da dengue por várias razões, pelo crescimento da população, a ocupação desordenada do ambiente e a falta de infraestrutura dos grandes centros urbanos. “Com um trabalho rotineiro e a colaboração de toda a sociedade e o poder público poderá haver um controle, mas não a erradicação.”
Qual a melhor arma?
A caça ao mosquito parece ser a principal arma contra a dengue. Isso depende de toda a humanidade, uma vez que não existe tratamento para a doença que infecta milhões de pessoas em todo o mundo. A quem contrai o vírus só resta esperar, enfrentando febre, dores e mal estar, até que o efeito se esvai cerca de sete dias após o aparecimento dos sintomas.
Especialistas do mundo todo fazem coro ao sanitarista goiano. Segundo eles, para diminuir o número de casos da dengue, a única maneira é tomar medidas preventivas a fim de eliminar os criadouros do Aedes. O problema que se instala aí é que o mosquito em si não produz o vírus. Ele é apenas um transmissor. Por que, acabando com ele, a doença acaba, se ela mesma é outra coisa?
Combinação explosiva
O Aedes veio da África para o Brasil, em navios escravistas, mais precisamente do Egito, daí o nome (aegypti, quer dizer egípcio). Já o vírus da dengue, da família Flaviviridae, é asiático, e só chegou ao Ocidente bem mais tarde. Portanto no século XVIII, ele ainda aportava em países como Estados Unidos e o próprio Egito. Chegou ao solo brasileiro só em 1865, na cidade do Recife, Pernambuco.
O casamento entre vírus e mosquito se deu pelo fato de o primeiro não ter metabolismo próprio e precisar manipular células vivas, de um tipo que o Aedes tem. Segundo os especialistas, o vírus é da mesma família que causa a febre amarela. Por isso mesmo ambas as doenças são transmitidas aos humanos pela saliva dos mosquitos Aedes.
Neste caso, surge outra pergunta. A febre amarela tem um controle mais acentuado porque se conseguiu fazer a vacina. Mas como pode um vírus metabolizado no organismo do mesmo mosquito ser tão diferente de seu parceiro de berço a ponto de não se conseguir produzir vacina contra ele?
A cura da dengue
Enquanto isso, a cura é adiada por falta de respostas mais precisas, e a dengue perdura há anos, colecionando várias epidemias. Desde o final da década de 1970, quando a doença voltou com força, a cada dez anos o país sofre pelo menos duas epidemias. A primeira, após um longo esforço para erradicar o mosquito, se deu em 1981, em Roraima.
Na ocasião, foram isolados os vírus tipos 1 e 4 (DEN1 e DEN4). Portanto depois, em 1986, houve outra epidemia, dessa vez no Rio de Janeiro e em algumas áreas urbanas do Nordeste com disseminação do DEN1 em mais de 50 mil casos.
A introdução do DEN2 no Rio de Janeiro ocorreu em 1990, atingindo várias áreas do Sudeste. Já em 1998, houve uma pandemia com mais de 500 mil casos. Portanto o vírus se espalhou por todo o País, com o Nordeste atingindo o maior número de vítimas.
Uma nova epidemia de dengue aconteceu entre 2001 e 2003, com o isolamento do vírus tipo 3, quando vários estados do Sul foram atingidos pela primeira vez. Entre um surto e outro há sempre a ameaça da dengue hemorrágica. Até o ano 2000, ela era rara no País. Mas com a chegada do vírus 3, aumentou muito o número de casos.
Hoje, aproximadamente 6% de mortes por dengue são ocasionadas pela hemorrágica. Desde a década de 1980, o vírus tipo 4 estava desaparecido. Mas recentemente, vários casos voltaram à tona, e a preocupação agora gira em torno do fato de que um maior número de pessoas poderá desenvolver a doença, já que a população não está imune ao DEN4.
Medidas
Em 2010, outra epidemia veio com força no país inteiro, quando aproximadamente 1 milhão de pessoas foram infectadas, das quais 592 morreram, segundo o Ministério da Saúde.
Sem uma ferramenta mais eficaz para combater o vírus da dengue, a única saída dos governos federal, estadual e municipal ainda é o combate ao hospedeiro da doença. Segundo especialistas, este controle se faz, sobretudo, através do meio ambiente e do modo de vida, numa relação direta à problemática socioambiental urbana, principalmente nas últimas quatro décadas.
Nesta perspectiva são envolvidos o clima, a urbanização desorganizada e intensa, a falta de saneamento e água tratada, além da ineficácia das políticas públicas no controle dos vetores da doença no País. Portanto as orientações, aparentemente bem simples, partem de princípios de higiene e cuidados com o acúmulo de lixo.
Também deve ser levado em conta o cuidado com vasilhames que possam reservar água parada, mesmo que em pequenas quantidades. Essas medidas devem ser constantes e permanentes, porque, ainda que fora do período chuvoso, o ovo do Aedes aegypti consegue sobreviver a mais ou menos 492 dias.
Ciclo de vida do Aedes
Com menos de um centímetro, e um ciclo de vida em média de 45 dias, esse inseto tem a capacidade de se adaptar a situações as mais diversas possíveis. Principalmente em países onde as condições do meio ambiente, associadas às dificuldades de saneamento básico, favorecem o seu desenvolvimento e proliferação de forma bem rápida.
Ou seja, há uma relação direta entre as chuvas e o aumento no número de vetores. A temperatura influencia na transmissão da dengue. Raramente ocorre transmissão em temperaturas abaixo de 16º C. Ela ocorre preferencialmente em temperaturas superiores a 20º C – a ideal para a proliferação do Aedes aegypti estaria em torno de 30 a 32º C.
E isso seria uma das explicações para o fato de que os Estados Unidos e a Europa, por exemplo, não passem por epidemias de dengue. Mas um fator crucial não pode passar despercebido: as condições socioeconômicas desses países, que são elevadas. Já no Brasil, mais da metade da população continua sem acesso à rede de coleta de dejetos e de água tratada.
Um mosquito essencialmente urbano
Para a professora Ellen Synthia Fernandes de Oliveira, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Goiás, que faz parte do Grupo Integrado de Ações contra Dengue (GIAD/UFG), a presença do Aedes aegypti em áreas urbanas é o fator responsável pela reemergência da doença.
Segundo ela, esse mosquito, capaz de transmitir os quatro sorotipos do vírus dengue, tem hábitos essencialmente urbanos, e encontrou na complexidade do mundo moderno as condições ideais para se proliferar. Além disso, Ellen explica que cientistas citam a explosão demográfica, o aquecimento global e a movimentação humana como os principais responsáveis pela presença incontrolável do Aedes aegypti nas cidades.
No entender da professora, a grande complexidade desse ambiente antrópico exige que se repense a estratégia de controle da doença, já que os criadouros potenciais encontrados no peridomicílio e intradomicílio, como garrafas plásticas, vidro, pneus, vasos, garantem a manutenção das altas densidades do vetor no ambiente urbano.
De acordo coma professora Menira Borges, do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP), a existência de um número elevado de casos da doença no país se deve a vários fatores. Portanto para ela, o que é necessário ressaltar é que o papel da população é muito importante na prevenção de possíveis criadouros e, consequentemente, proliferação do vetor.
O Aedes se multiplica em depósitos de água parada, acumulada nos quintais e dentro das casas. Apesar da vida curta, o mosquito pode picar uma pessoa a cada 20 ou 30 minutos. Portanto levando em conta que portando o vírus ele ainda vive cerca de 14 dias, se for muito ligeiro, poderá picar de 672 a 1.000 pessoas.
Ações e resultados
Considerando que o Aedes aegypti já se tornou um inquilino dos lares brasileiros, a maior preocupação com o extermínio desse indesejável hóspede deve recair mesmo sobre os donos da casa. Portanto mesmo esperando ações mais frutíferas do governo, a sociedade civil precisa tomar consciência de que a caça ao mosquito é o único remédio que se tem.
Neste caso, a questão começa pela conscientização e envolvimento da sociedade de cobrar dos poderes públicos federal, estadual e municipal a priorização de ações que possam levar água tratada, rede de esgoto e estação de tratamento para todas as cidades.
É o primeiro passo para resolver não só o problema da dengue, mas de muitos outros ligados à saúde pública.
Aí entra a questão do “dever de casa” citada pela professora Menira Borges, que também faz parte do Grupo Integrado de Ações contra Dengue (GIAD/UFG). Portanto não é bom para ninguém acreditar que o quintal do vizinho é que está sujo. Isso pode pegar a família no contrapé da doença, elevando o número de casos de uma região inteira.
O que os governos fazem sobre isso
Além disso, ao longo de 30 anos de epidemias sucessivas, só agora o governo federal e as secretarias estaduais tiveram a ideia de viajar o país e as cidades em caravanas de conscientização e debate sobre como combater o mosquito, que estratégia montar para pegar o inseto mais procurado do território brasileiro.
O governo estadual também vem desenvolvendo outras ações como o Agente Mirim e o Síndico Dengueiro, projeto que tem um servidor em cada órgão responsável por todas as questões relativas à eliminação de criadouros nos prédios públicos. Portanto o Corpo de Bombeiros Militar também está desenvolvendo ações na campanha de combate à dengue no Estado.
Integrante do Comitê Estadual Contra a Dengue, a corporação montou equipes que estarão percorrendo todas as unidades dos bombeiros, com o objetivo de conscientizar o efetivo para a eliminação de possíveis criadouros do mosquito.
O vaivém da dengue
As epidemias enfrentadas em todo o País revelam a cada ano que o problema está mais sério do que se pensa
Por mais que as autoridades tentem barrar o avanço da dengue no Brasil, há sempre descuidos que fazem o vírus voltar com força. Este ano, até 26 de fevereiro, foram registrados 155.613 casos em todo o país.
No Rio de Janeiro, a situação é sempre a mais grave. No primeiro mês de 2022, a Secretaria Estadual de Saúde fluminense e a Defesa Civil notificaram 485 casos só na capital, um aumento de 440% em relação ao mesmo mês do ano passado. O Estado já registrou 18 mortes por dengue este ano.
Em números absolutos, a região Norte tem o maior número de casos notificados (49.101; 31,6%), seguida da região Sudeste (42.092; 27,0%), Nordeste (28.653; 18,4%), Centro-Oeste (19.066; 8%) e Sul (16.613; 11,3%). Goiás ainda apresenta o maior número de casos notificados em sua região, seguido pelo Mato Grosso do Sul.
Dengue um problema socioeconômico
Os números são alarmantes e a cada ano surpreende mais pela gravidade de casos com óbitos. Mas não é difícil perceber também que neste ciclo de epidemias os surtos de dengue variam apenas de local e o número de casos de acordo com a densidade populacional da região afetada.
Ou seja, durante todos estes anos, a doença tem se mostrado como um problema recorrente, porque é complexa e tem relação direta com o clima, acesso à água, limpeza das cidades, informação, educação, padrão de urbanização, situações que estão presentes na maioria dos municípios brasileiros.
É possível erradicar o Aedes aegypti do país? “Hoje consideramos impossível erradicar o Aedes aegypti. O programa de erradicação se tornou inviável. A ideia agora é manter a quantidade de mosquitos a níveis seguros para impedir a transmissão de doenças”, afirma Valle. A bióloga diz que a adoção de fumacês, por exemplo, gera mosquitos mais resistentes. “Hoje, levamos de 20 a 30 anos para desenvolver um inseticida e, em dois anos, ele perde sua eficácia por causa do uso abusivo.
Globalização
A dengue, no entanto, não é um transtorno enfrentado só no Brasil. A incidência da doença em todo o mundo tem aumentado, afetando anualmente cerca de 100 milhões de pessoas em mais de 100 países nas regiões tropicais e subtropicais, conforme estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS).
De acordo com as professoras Ellen Synthia Fernandes, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), e Menira Borges de Lima Dias, do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP), a reemergência da dengue tornou-se, a partir da década de 1960, um grave problema de saúde pública nas Américas.
Segundo elas, que fazem parte do Grupo Integrado de Ações contra Dengue (GIAD/ UFG), as Américas são responsáveis por cerca de 60% das notificações de dengue no mundo, e o Brasil concentra cerca de 70% dessas notificações.
A dengue está presente em 26 das 27 unidades federativas brasileiras, com circulação viral simultânea na maioria dos Estados. Os especialistas explicam ainda que a ocorrência da dengue resulta em elevado impacto social e econômico da região afetada. Segundo elas, cerca de 2,5 bilhões de pessoas no mundo inteiro encontram-se sob risco de se infectar.
Com o aumento das temperaturas pelo aquecimento global, alguns estudiosos também já consideram que regiões no sul dos Estados Unidos e Europa estão se tornando zonas endêmicas. Isso porque o aumento da temperatura faz o mosquito proliferar mais nesses ambientes.
Condições favoráveis
No Brasil, o clima quente nos meses de verão é um dos agravantes do aumento na taxa de reprodução do mosquito. Além disso, a dengue tem uma relação estreita com as grandes cidades, por estas apresentarem uma maior concentração populacional e circulação de pessoas de diversas regiões.
Uma pesquisa feita pelo Ministério da Saúde no ano passado mostrou que mais de 90% da população têm conhecimento sobre a dengue e sabe como preveni-la. O que falta é transformar esse conhecimento em ação. Essas questões não dizem respeito só ao setor de saúde, envolvem toda a população.
As adaptações do mosquito para sobreviver, devido ao clima quente e às estações chuvosas bem definidas, também são apresentadas como fatores que dificultam a solução da dengue. Magna acredita que, com uma mobilização de toda a sociedade e das áreas do poder público, a situação pode ser melhorada.
O que fazer para prevenir
O que fazer dentro de casas para evitar os criadouros? Algumas das medidas indicadas para combater a proliferação do Aedes são:
- tampar os grandes depósitos de água, como caixas d’água, reservatórios, tanques e piscinas que não são usadas com frequência
- não abandonar lixos e outros objetos, como pneus velhos e garrafas, em quintais ou nas ruas.
- Usar cloro na água acumulada evita o surgimento das larvas
O combate depende tanto do governo, que precisa investir em políticas públicas de combate, quanto da população, que deve estar atenta ao acúmulo de água parada em casa.
Manter o ambiente sempre limpo e não acumular lixo são ações importantes para evitar a proliferação dessa praga, porém a forma mais segura de evitar uma infestação é realizando a dedetização do local.
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