Porque os insetos voam ao redor da luz? Especialmente nos dias de calor, é muito comum ver insetos voando ao redor de lâmpadas acesas. No entanto, ao contrário do que se pensava, a luz artificial não atrai esses voadores, mas, sim, interfere nos sistemas de controle usados por eles para se orientarem quando voam.
A conclusão é de uma pesquisa da Imperial College London publicada no site bioRxiv, uma plataforma para cientistas divulgarem seus estudos antes da revisão por pares (fase em que outros pesquisadores avaliam o conteúdo para validá-lo para publicação em periódicos científicos).
O que diz o estudo?
Os insetos não voam diretamente para a luz artificial porque são atraídos por ela. Na verdade, o que uma lâmpada acesa faz é “bagunçar” o sistema de voo deles, o que faz que fiquem girando ao seu redor de forma errática. Segundo os pesquisadores, essa é a razão mais “plausível” para explicar por que eles se juntam em volta das luzes artificiais.
Mariposas ao redor de uma chama?
Muitas explicações antigas para esse comportamento hipnótico não foram totalmente comprovadas.
Uma ideia inicial era que os insetos poderiam ser atraídos pelo calor de uma chama. Isso era interessante, pois alguns insetos realmente são pirofílicos: eles são atraídos pelo fogo e evoluíram para tirar proveito das condições em áreas recentemente queimadas. Mas a maioria dos insetos ao redor de uma luz não está nessa categoria, e as luzes frias os atraem muito bem.
Outra suposição era a de que os insetos eram apenas diretamente atraídos pela luz, uma resposta chamada fototaxia. Muitos insetos se movem em direção à luz, talvez como uma forma de escapar de ambientes escuros ou que os aprisionam. Mas se essa fosse a explicação convincente, seria de se esperar que eles se chocassem diretamente com a fonte. Essa teoria não explica o comportamento selvagem de andar em círculos.
Outra ideia ainda era a de que os insetos poderiam confundir uma luz próxima com a Lua, ao tentar usar a navegação celestial. Muitos insetos usam como referência a Lua para manter seu trajeto à noite. Essa estratégia se baseia na forma como os objetos a grande distância parecem pairar no lugar enquanto você se move ao longo de um caminho reto.
Orientação pela lua
A Lua estável indica que você não fez nenhuma curva não intencional, como aconteceria se você fosse pego por uma rajada de vento. Objetos mais próximos, entretanto, não parecem segui-lo no céu, mas ficam para trás à medida que você passa.
A teoria da navegação celestial sustentava que os insetos se esforçaram para manter essa fonte de luz estável, girando bruscamente em uma tentativa fracassada de voar em linha reta.
É uma ideia elegante, mas esse modelo prevê que muitos voos se tornarão espirais em direção a uma colisão, o que geralmente não corresponde às órbitas que vemos. Então, o que realmente está acontecendo?
Virando as costas para a luz
Para examinar essa questão em detalhes, nós e nossos colegas capturamos vídeos em alta velocidade de insetos em torno de diferentes fontes de luz para determinar com precisão as trajetórias de voo e as posturas corporais.
Esse estudo foi feito tanto no laboratório do Imperial College London quanto em dois locais de campo na Costa Rica, o CIEE e a Estación Biológica. Descobrimos que os padrões de voo dos insetos não eram compatíveis com nenhum modelo existente.
Em vez disso, uma ampla faixa de insetos apontava consistentemente suas costas para as luzes. Esse é um comportamento conhecido como resposta à luz dorsal. Na natureza, supondo que mais luz desça do céu do que subia do solo, essa resposta ajuda a manter os insetos na orientação adequada para voar.
Mas apontar suas costas para luzes artificiais próximas altera suas trajetórias de voo.
Assim como os aviões se inclinam para fazer curvas, fazendo com que o chão pareça quase reto pela janela, os insetos inclinados também fazem curvas.
Quando suas costas se orientam para uma luz próxima, a inclinação resultante os faz girar em torno da luz, circulando, mas raramente colidindo.
Essas trajetórias em órbita foram apenas um dos comportamentos observados. Quando os insetos voavam diretamente sob uma luz, eles geralmente se arqueavam para cima à medida que ela passava por trás deles, mantendo as costas voltadas para a lâmpada até que, por fim, voando diretamente para cima, eles paravam e caíam no ar.
E, o que é ainda mais interessante, quando voavam diretamente sobre uma luz, os insetos tendiam a se virar de cabeça para baixo, novamente dando as costas para a luz, mas caindo abruptamente.
Por que uma resposta à luz dorsal?
Embora a luz noturna possa prejudicar outros animais — por exemplo, ao desviar pássaros migratórios para áreas urbanas —, os animais maiores não parecem perder sua orientação vertical.
Então, por que os insetos, o grupo de voadores mais antigo e mais rico em espécies, dependem de uma reação que os deixa tão vulneráveis?
Talvez tenha a ver com seu pequeno tamanho. Os animais maiores podem sentir a gravidade diretamente com órgãos sensoriais puxados por sua aceleração, ou por qualquer aceleração.
Nós seres humanos, por exemplo, usamos o sistema vestibular de nosso ouvido interno, que regula nosso senso de equilíbrio e geralmente nos dá uma boa noção de qual direção é para baixo.
Mas os insetos têm apenas estruturas sensoriais pequenas. E, especialmente quando realizam manobras rápidas de voo, a aceleração oferece apenas uma indicação ruim da direção para baixo. Em vez disso, eles parecem apostar no brilho do céu.
Antes da iluminação moderna, o céu era geralmente mais brilhante do que no solo, de dia ou de noite, e por isso fornecia uma pista bastante confiável para um pequeno voador ativo que esperava manter uma orientação estável.
As luzes artificiais que sabotam essa capacidade, fazendo com que os insetos voem em círculos, são relativamente recentes.
Como os insetos voadores se orientam?
Os insetos voadores precisam de um jeito confiável para se orientarem em relação ao mundo exterior, especialmente quanto à direção da gravidade. E um dos principais fatores que os ajudam nisso é a luminosidade – inclusive à noite.
Ao longo da história evolucionária do voo dos insetos, a parte mais brilhante do campo visual deles é o céu, que funciona como um grande indicador da direção para cima.
Como os insetos controlam o seu voo?
A maior parte dos insetos voadores contam com um comportamento dorsal de resposta à luz. Isto é, eles mantêm a parte de cima do seu corpo (as “costas”) voltada para o lado de onde vem o brilho.
Sob a luz natural, o hemisfério mais brilhante serve de referência e os ajuda a controlar o voo.
Diante de uma luz artificial, porém, os pesquisadores perceberam que, da mesma forma como fazem em relação ao céu, os insetos inclinam o dorso em direção à fonte de luz (uma lâmpada, por exemplo), mas acabam ficando “presos” girando sem parar de forma errática.
Como foi feita a pesquisa?
O estudo usou uma técnica tridimensional para reconstruir em laboratório o voo de insetos em volta de luzes artificiais.
Nós, finalmente, temos uma boa explicação sobre por que os insetos ficam ao redor de luzes artificiais e não é porque são atraídos por elas. O nosso modelo de orientação demonstrou que a inclinação dorsal deles é suficiente para criar voos erráticos próximos à luz e se mostra plausível para explicar por que eles ficam girando em torno dela”, diz trecho do estudo assinado pelos pesquisadores Samuel Fabian, Yash Sondhi, Pablo Allen, Jamie Theobald e Huai-Ti Lin.
O problema crescente da iluminação noturna
À medida que as novas tecnologias se espalham, as luzes que permeiam a noite estão proliferando mais rápido do que nunca. Com a introdução de LEDs baratos, brilhantes e de amplo espectro, muitas áreas, como as grandes cidades, nunca viram uma noite escura.
Os insetos não são as únicas criaturas afetadas. A poluição luminosa interrompe os ritmos circadianos e os processos fisiológicos em outros animais, plantas e seres humanos, muitas vezes com graves consequências para a saúde
Mas os insetos presos ao redor de uma luz parecem ser os que mais sofrem com isso. Incapazes de obter alimento, facilmente detectados por predadores e propensos à exaustão, muitos morrem antes do amanhecer.
Em princípio, a poluição luminosa é uma das coisas mais fáceis de consertar, muitas vezes bastando acionar um interruptor. Restringir a iluminação externa a uma luz quente útil e direcionada, não mais brilhante do que o necessário e por não mais tempo do que o necessário, pode melhorar muito a saúde dos ecossistemas noturnos.
E as mesmas práticas que são boas para os insetos ajudam a restaurar a visão do céu noturno: mais de um terço da população mundial vive em áreas onde a Via Láctea nunca é visível.
Embora os insetos que circulam em torno de uma luz sejam um espetáculo fascinante, certamente é melhor para eles e para os benefícios que eles proporcionam aos seres humanos quando deixamos a noite sem iluminação e permitimos que eles realizem as atividades que tão magistralmente executam sob o céu noturno.
Entendendo a Revoada de Cupins
A revoada de cupins é um fenômeno natural que ocorre com mais intensidade no início da primavera. Nesta época, os cupins alados, conhecidos popularmente como “siriris” ou “aleluias”, deixam seus ninhos em busca de locais propícios para formar novas colônias. Este processo é vital para a perpetuação da espécie, mas pode ser extremamente prejudicial para construções e residências.
Durante a revoada, os cupins saem em grandes enxames, geralmente ao entardecer, atraídos pela luz artificial. Estes insetos alados são os futuros reis e rainhas das colônias. Ao encontrarem um local adequado, eles perdem suas asas e iniciam a formação de um novo ninho. Este é o momento mais crítico, pois se o local escolhido for uma residência ou edifício, a chance de uma infestação massiva é extremamente alta.
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